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Sidarta Gautama

Imagem de Buda

O Espírita e a Filosofia Budista.

O Espiritismo é uma doutrina que incentiva o estudo e o conhecimento. Para o espírita vale a pena conhecer outras filosofias espiritualistas e o Budismo[1] é uma das mais interessantes. Abre ângulos novos de visão, bem diferentes dos que estamos acostumados em nossa cultura. Nos ajuda a olhar de forma diferente as nossas próprias crenças, para entendê-las melhor!

Os ensinamentos de Buda

As origens do Budismo estão nos ensinamentos de Sidarta Gautama, o Buda (Desperto/Iluminado). As escolas de pensamento, que se formaram a partir deles, os preservaram nos chamados Sutras (discursos), sendo que o conjunto antigo mais completo é o Tipitaka (Os Três Cestos)[2]  da escola Teravada (dos anciãos), escritos em uma antiga língua chamada Pali. Se esta não foi a língua utilizada pelo próprio Buda, como dizem as tradições antigas, era muito próxima da dele.

Estes ensinamentos apontam um caminho que, seguidas suas etapas, libertam o ser das causas e condições que o prendem ao ciclo de renascimentos e mortes (Samsara). Extintas (Nirvana) as causas e condições, o ser entra em um estado que transcede nossa capacidade de descrição, por não se assemelhar a nada que experimentamos enquanto não o atingimos. Daí ser mais comum as descrições do que este estado não é.

A essência do ser, como é apresentada nos ensinamentos de Buda, é dinâmica. O ser é na realidade um processo que se desenvolve ininterruptamente ao longo do tempo, uma propagação de interações entre mente e matéria (também chamada de forma). Para os Budistas, não há uma alma “separada”, “imutável” e “existente por si própria” ao qual possa ser atribuído o nome de “eu” [3] (Anatta – literalmente “não eu”). O “eu” que percebemos, o que designamos por alma, é resultado do processo e existe em dependência dele.

Em analogia com uma onda eletromagnética, que se propaga sem um suporte físico externo a ela, a cada momento, esta onda do ser, cria seu momento seguinte.  Os mecanismos da natureza que dão sustentação a existência da onda eletromagnética se expressam através de funções matemáticas, os mecanismos da natureza que dão sustentação a continuidade do ser durante o seu ciclo de existências se expressam através da lei da ação (Karma).

Como resultado  dessa lei, somos agora o ser que criamos com nossas ações passadas e seremos amanhã o ser resultante das nossas ações de hoje.

A ação destas leis universais, compõe a verdade (Darma) por detrás de todos os fenômenos condicionados (que surgem em consequência das causas anteriores e das condições para que elas atuem). Nenhum fenômeno condicionado existe por si só no Universo, isolado e independente dos demais (Originação Dependente), modificadas as causas que lhe deram origem, modifica-se também. É assim vazio de existência própria.

Vazio não é “não existir”! Os fenômenos existem, são reais, mas de forma diferente daquela que lhes atribuimos ao observá-los.

Todos os fenômenos condicionados em suma, são impermanentes (Anika), sem uma existência própria independente (Anatta) e o apego a eles leva ao sofrimento (Dukka). Despertar para esta verdade e colocá-la em prática, é atingir a iluminação. Para chegar ao despertar, deve-se aprimorar o próprio ser através da moral, da concentração e da sabedoria.

A Doutrina Budista

A Doutrina (Darma) ensinada por Buda é a base do Budismo até nossos dias. As várias escolas Budistas existentes são enfoques distintos, que coexistem pacificamente, sobre o Darma.

Repare que Darma é uma palavra que designa tanto a Doutrina Budista quanto a verdade que esta doutrina expõe.  Para se referir aos ensinamentos de Buda também é utilizada a expressão Buddha Vacana (a palavra de Buda). Budismo é uma palavra criada pelos ocidentais e não aparece nos textos budistas antigos.

A ideia de um Deus Criador

Um aspecto muito diferente desta Doutrina em relação ao modo de pensar de outras religiões, é que nela não há a ideia de um Deus Criador[4]. A realidade que se expressa através das leis universais, que dão surgimento a todos os fenômenos, existe de toda a eternidade. Não há um ponto inicial de Criação que exija a figura de um criador [5]. Mesmo o Universo físico que a ciência estuda é um de infinitos outros que surgem e desaparecem como todos os fenômenos condicionados.

Perguntas sem Resposta

Há algumas perguntas que o Buda deixou intencionalmente sem resposta, por não terem uma formulação adequada ao se basearem na existência independente dos fenômenos, por não terem uma resposta possível dentro dos conceitos conhecidos na sua época ou por afastarem do que realmente importa, que é a libertação do sofrimento.

Entre elas estava a questão da continuidade de sua existência após a Morte. Tendo atingido a libertação, sem causas e condições que condicionariam uma nova existência no Samsara, ele continuaria a existir? Em nenhum momento ele disse que a extinção (Nirvana) era do ser, mas do que o prendia ao sofrimento, logo há uma continuidade. O problema é a falta de termos adequados para descrever o ser neste novo estado, uma resposta mal entendida traria mais confusão do que não respondê-la.

Muita Paz,

Carlos A. I. Bernardo

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Algumas observações:

[1] O Budismo é composto de várias escolas de pensamento e, a rigor, seria necessário especificar a qual delas estamos nos referindo ao falar de suas ideias filosóficas. Neste breve artigo, tomei como referência as ideias da escola Teravada. Para os termos budistas, procurei utilizar as formas que se tornaram comuns no Brasil.

[2] O conjunto de textos é dividido em três coleções: disciplina monástica, discursos de Buda e análises da realidade de acordo com estes discursos. Recomendo a leitura da coletânea em português de Nissim Cohen – Ensinamentos do Buda: Uma Antologia do Cânone Pali.  No site Access to Insight há uma coletânea bastante ampla de textos do Cânone Pali em inglês.

[3] A primeira vista parece uma ideia conflitante com a que temos no Espiritismo, mas é interessante lembrar que os Espíritos, quando perguntados sobre a natureza do íntima do espírito (questão 23 – O Livro dos Espíritos), disseram que “Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe”. Eles também colocaram que o espírito é uma “individualização” do princípio inteligente (questão 79 – O Livro dos Espíritos) e que se pode definir a matéria como sendo o instrumento através do qual o espírito age e sobre o qual exerce a sua ação (questão 22a – O Livro dos Espíritos).

[4] Este é uma outra ideia que pode parecer muito diferente da que estamos acostumados, mas será mesmo? A concepção de Deus na Doutrina Espírita não é exatamente aquela que é contestada pelo Budismo. Para nós, a questão que se coloca não é “quem é”, mas, o “que é” Deus. A resposta dos Espíritos a esta pergunta, o apresenta como sendo a inteligência suprema que é a causa de tudo o que existe. (Livro dos Espíritos – 1a Questão. Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”).

[5] Quando Kardec perguntou se a matéria existia de toda a eternidade ou se foi criada em um momento especifíco, a resposta que os Espíritos lhe deram foi que “Só Deus o sabe. Há uma coisa, todavia, que a razão vos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e caridade, nunca esteve inativo. Por mais distante que logreis figurar o início de Sua ação, podereis concebê-lo ocioso, um momento que seja?” (O Livro dos Espíritos – Questão 21).

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