Um Conto Espírita (III)
Pedro se apressa, está preocupado com o seu cunhado João. Grandes amigos desde que se conheceram em um incidente de sua infância, os laços se fortaleceram mais ainda quando ele e sua irmã se apaixonaram e casaram.
O motivo da preocupação é o desespero de João com o estado de seu cão de estimação, Totó. Eles são muitos apegados, Totó o acompanha para todos os lados há muitos anos. Até mesmo ao Centro Espírita eles vão juntos, Totó fica esperando na porta até que a sessão acabe.
O Centro Espírita do bairro foi fundado por Pedro. Após o incidente mencionado, em que teve sua vida salva por João e Totó, ele começou a manifestar mediunidade. Teria sido internado em um hospício, não fosse a intervenção de um vizinho, que conhecia o Espiritismo.
Pedro estudou o Espiritismo, se tornou médium, se dedicou aos idosos necessitados. As notícias sobre suas atividades mediúnicas e assistenciais alcançaram outras cidades. Vinha gente de longe assistir às reuniões mediúnicas.
Totó passou de muito da idade a que costumeiramente chega a sua raça e, nos últimos dias, encontra-se em estado de fraqueza acentuado. Mal come e bebe. O Veterinário já sinalizou que a partida é iminente.
João questionou Pedro insistentemente sobre o que ocorreria com Totó após a morte. Pedro lhe explicou que é consenso entre os espíritas que os animais tem alma e que ela sobrevive à morte do corpo, mas, ainda não há uma conclusão definitiva sobre a sua situação na vida espiritual.
– “Alguns dizem que os animais ficam em estado de sono até serem conduzidos naturalmente para novas reencarnações, outros citam passagens mediúnicas que trazem evidências da participação dos animais em eventos no plano espiritual”.
– “Outra questão aberta é o seu grau de desenvolvimento espiritual. Alguns defendem que eles já tem um livre arbítrio relativo e, portanto, já estão sujeitos, como nós, à lei de causa e efeito. Outros pensam que isso só ocorre quando eles atingem o ponto de sua evolução espiritual em que deixam de ser animais e passam para o estágio humano. Há, inclusive, os que defendem que a palavra Espírito só deveria ser aplicada a partir desse momento”.
O que Pedro sabia dizer é que não foram poucas as vezes em que, ao sair do Centro após as sessões, vira um Espírito luminoso entretendo-se com Totó. Era um dos guias espirituais do Centro e membro de uma instituição do plano espiritual dedicada ao socorro de espíritos sofredores.
Totó alegrava-se muito nestas ocasiões e os frequentadores do Centro, que não podiam perceber o que se passava do lado espiritual, atribuíam a alegria à expectativa da saída do dono.
A passagem de Totó para o plano espiritual foi tranquila, parecia que esperava apenas que Pedro também estivesse lá para a despedida final. Foi com um último olhar de carinho e agradecimento que se despediu de seus grandes amigos.
Tivesse Pedro se concentrado naquele momento, teria visto algo inusitado, ampla caravana espiritual se achava estacionada ao lado da casa. Uma grande matilha de cães adestrados para a ajuda ao próximo, brincava nas redondezas, invisíveis aos olhos dos encarnados.
Um Espírito de muita luminosidade adentrou o lar de João. Cortou os últimos laços que prendiam Totó aos seus despojos carnais e o recolheu.
Parte então a caravana, acompanhada pela matilha, rumo ao seu lar espiritual.
Muita Paz,
Carlos A. I. Bernardo