Pensar em Jesus.
Certo tarefeiro espírita, bastante esforçado, porém muito dado a longas perquirições intelectuais, perdia-se em complexos raciocínios cada vez que o dirigente dos trabalhos da casa pedia para que os participantes elevassem o pensamento à Jesus.
De certa forma, qual o Centurião da passagem evangélica (Mateus 8:5-13), imaginava o Mestre cercado de legiões de colaboradores, os quais comandava através de imensa hierarquia, dando ordens e recebendo relatórios. O via mergulhado integralmente nas tarefas executivas, a semelhança de um presidente moderno.
Em sua mente, visualizava Jesus no mais alto plano espiritual, em magnifico gabinete ornamentado com luzes fulgurantes que formavam nobres peças de mobiliário espiritual, ao qual eram levadas as questões mais decisivas para a humanidade terrestre e de onde partiam instruções para mudanças profundas em povos e nações.
Questões menos fundamentais, destinos de comunidades menores e indivíduos, com certeza seriam tratados em outros escalões da vasta organização capitaneada por Jesus, guisa em esferas mais próximas do plano material, para não tomarem o precioso tempo do governador espiritual do planeta.
Desesperava-se sentindo a distância entre nós, seres ainda presos as limitações e desafios da jornada terrestre, e a grandeza espiritual do Cristo. Aliás, rememorando a célebre missiva de Publius Lentulus, que chegou até nós entre os textos apócrifos, imaginava o divino Mestre sempre de semblante sério, tomando decisões duras para acertar os destinos de um mundo que, passados mais de dois mil anos, ainda não lhe compreendia os ensinamentos.
Perdia-se, porém, nestas cogitações de forma honesta, realmente preocupado em entender como se processava o imenso trabalho de tornar o Reino dos Céus presente no coração e mente dos homens.
Jesus por toda a parte.
Tanto buscava esclarecimento que, certa noite, sonhou que estava entrando em imenso auditório, onde seria proferida palestra com importantes orientações para o grupamento espiritual a que se ligava.
Eis que, chegando ao lugar que lhe foi designado, surpreendeu-se de ver que o Divino Mestre lhe aguardava na entrada da fileira de bancos e lhe indicava onde sentar. Agradeceu tomado de profunda emoção e, consciente de sua pequenez espiritual, dirigiu ao Mestre algumas palavras e algumas poucas perguntas. Viu que o Mestre, com um largo sorriso, lhe esclareceu que ele acompanhava com grande interesse cada ser humano e se manifestava de acordo com as necessidades de cada um em particular.
Foi então que tomado de grande surpresa, olhou ao redor. No imenso salão, centenas de pessoas se achavam posicionadas para ouvir a prelação e, ao lado de cada um, como que projetado por toda a parte, estava Jesus, orientando e amparando cada indivíduo ali presente.
E o tarefeiro ainda buscando entender melhor a lição, voltou-se para Jesus e perguntou: “Mas, Mestre, o senhor ainda atua diretamente no mundo material?” e este lhe respondeu, “Como não, atuo através de cada um de meus colaboradores!”.
Despertou então o tarefeiro, não só para a vida cotidiana, mas para a verdade profunda de que a administração do Reino dos Céus é completamente diferente das administrações nos reinos da Terra.
Entendeu finalmente que as palavras de Jesus, avisando que “que os governadores dos povos os dominam e que são as pessoas importantes que exercem poder sobre as nações; não será assim entre vós; ao contrário, quem desejar ser importante entre vós será esse o que deva servir aos demais” (Mateus 20:25), não eram letra morta e que o próprio Jesus jamais deixaria de cumpri-las ele mesmo.
Muita Paz,
Carlos A. I. Bernardo